O ROMANCE NEO-REALISTA EM PORTUGAL



A denominação Neo-Realismo nos sugere a volta da moda realista, mas, em se tratando de Literatura, é claro que não pode haver um “retorno” de um movimento literário. Esses movimentos nem retornam, nem admitem fronteiras. O que a princípio pode aparentar um retorno é, na verdade, uma transformação enriquecida.
O rótulo “Realismo” com que foi batizado o movimento que segue o Romantismo, se deve à acentuada tendência para a observação direta da realidade, através de um registro objetivo e impessoal, sem as idealizações comuns às artes de até então.
O Realismo levou o gênero romance para o campo da observação metódica e objetiva, contaminando-o pela busca apaixonada dos fenômenos vividos e analisáveis. A vida humana tornou-se documento de pormenorizada pesquisa diante da qual o escritor procurava manter-se frio e neutro para conseguir a objetividade fotográfica, o que era a atitude estética exigida, mas nem sempre conseguida.
O escritor realista denunciará uma sociedade corrompida e falsa. Eça de Queiroz, por exemplo, denunciou a falsidade do relacionamento social do ponto de vista ético-amoroso. Os neo-realistas denunciam a falsidade do funcionamento social, numa sociedade corrompida e falsa do “pós-guerra”.
Há também no Neo-Realismo a tendência para a observação direta da realidade, numa tentativa de estruturação cinematográfica do romance. Mas o registro do autor nem sempre será impessoal.
O herói realista vai se multiplicar por cem, por mil, e se tornar quase anônimo no Neo-Realismo, porque as personagens centrais se confundem no drama coletivo de todo um povo, desfavorecido e humilde.
Em Portugal, a geração neo-realista pretendeu preencher o vazio que a morte de Eça de Queiroz deixou no romance português. Se conseguiu ou não, só o tempo há de dizer.

LENDAS DO ESPORTE - POMPEIA

José Valentim da Silva, o Pompéia, nasceu em 27 de setembro de 1934, na cidade de Itajubá, no sul de Minas Gerais. Na escola ele gostava de desenhar a figura do Popeye, que era o símbolo do Flamengo, mas seus colegas não sabiam falar o nome direito e colocaram o apelido nele de Pompéia. 
Seu maior sonho era ser um artista de circo, talvez um trapezista, e a brincadeira predileta era saltar na cama elástica. Só iniciou sua vida esportiva mais tarde, como centroavante do Clube Itajubá, time de futebol formado por funcionários de uma fábrica de material bélico, que participava da segunda divisão do campeonato mineiro.
Depois ele jogou em um outro time da cidade, o São Paulo, ainda como centroavante. Certa vez em um jogo na cidade de Três Pontas, o goleiro do São Paulo adoeceu e Pompéia, que era o mais alto do time, foi escalado para o gol. Ele se saiu tão bem que acabou sendo a grande sensação da partida. Daí pra frente decidiu assumir a posição de goleiro. 
Em um jogo contra o Bonsucesso do Rio de Janeiro, Pompéia, o novo goleiro do São Paulo, entusiasmou tanto os torcedores com suas ousadas jogadas acrobáticas, que foi convidado pra treinar no Bonsucesso.
Pompéia não pestanejou e partiu para a então capital do Brasil, a cidade maravilhosa, principal vitrine do futebol no país. Assinou com o Bonsucesso o seu primeiro contrato profissional em abril de 1953 e no ano seguinte transferiu-se para o América, onde permaneceu por 11 anos. 
O aprendizado técnico como goleiro e atleta foi adquirido principalmente com a ajuda do seu primeiro treinador, Alfinete, no Bonsucesso. Ele levava Pompéia para observar como atuavam os lendários goleiros da época: Barbosa do Vasco e Castilho do Fluminense.
Mas Pompéia não copiou o estilo de nenhum deles e construiu um perfil próprio, onde a estética das defesas se sobrepunha à dificuldade do lance. Pra qualquer chute que viesse para o gol, ele desenhava uma cena mirabolante, variando entre a beleza plástica e o rocambolesco circense, lançando-se sobre a bola de maneira espetacular. 
Alguns críticos o consideravam meio presepeiro, mas para a maioria dos torcedores Pompéia era um goleiro sensacional. Por conta dos seus incríveis saltos de acrobacia ganhou a fama de goleiro voador; seu apelido era Ponte-aérea ou Constellation, o modelo de avião popular na época.
Quando estava no seu dia, Pompéia tomava conta da partida e dividia o espetáculo com os grandes craques da época, como Garrincha e Pelé.



Política e religião: o pensamento de Albert Einstein


Como todo mundo sabe, Albert Einstein foi um dos maiores cientistas do século XX. Suas teorias revolucionaram os conceitos da física clássica, tanto na abordagem de temas relativos ao macro-universo do espaço sideral, como também nas microdimensões do ambiente quântico.
As ideias e descobertas de Einstein, entretanto, são muito complexas e difíceis de ser compreendidas pelo senso comum. A linguagem científica da física é tão técnica e específica, que se torna incompreensível para a grande maioria das pessoas.
Mas, em relação a temas humanos e sociológicos, como política e religião, por exemplo, qual era o pensamento do grande cientista alemão sobre estes dois assuntos?
Seguem abaixo dois textos selecionados de autoria de Einstein, o primeiro sobre política (Por que o socialismo?) e o segundo sobre religião (Minha crença).

- POR QUE O SOCIALISMO? - artigo escrito especialmente para o primeiro número da revista marxista estadunidense Monthly Review, lançada em maio de 1949.
- MINHA CRENÇA - escrito em agosto de 1932, com gravação feita com a voz do próprio Einstein registrada em disco de de vinil para a Liga Alemã de Direitos Humanos.

O ROCKSTAR DEFINITIVO


Os fanáticos por música gostam de refletir sobre coisas como "quem é o maior rockstar de todos os tempos". Há várias opções por vários motivos. Pelo impacto global, poderia muito facilmente ser Bob Marley. Elvis Presley foi, naturalmente, o primeiro astro do "rock and roll" (não que ele tenha criado o rock, mas foi a primeira grande estrela do rock). 
Com sua mística e seu carisma, Jimi Hendrix e Jim Morrison também encantaram os fãs por gerações, Mick Jagger e Keith Richards corporificaram o rock por décadas e quando pensamos na ideia de deuses do rock, ninguém supera Robert Plant e Jimmy Page.
Quando você olha para todos os traços que definem um rockstar - o talento que transcende gerações; uma abordagem intransigente de sua arte; uma voz para o bem; influência em outros músicos; uma vontade de evoluir e um carisma que fala para todas as línguas e todas as culturas - talvez você tendesse a citar David Bowie, que até pode ser o número dois.
Mas ao idealizar estas características como um todo, especialmente a consciência social, a determinação inflexível e a poderosa influência, o nome que mais vem à mente é John Lennon (a quem Bowie certa vez chamou de "seu maior mentor").
Converse com outros músicos e eles certamente falarão de sua influência transcendente. Em minhas milhares de entrevistas, o enorme papel de Lennon na modelagem do rock aparece sempre de novo e de novo.
"Se estamos falando de músicas de protesto, o primeiro homem por quem eu me apaixonei foi John Lennon", me disse uma vez Shirley Manson, do grupo Garbage. "Para mim, ele é sempre o mais legal dos Beatles porque assumiu uma posição e pagou um preço alto por isso. Ele foi um militante pioneiro e seu exemplo ficou comigo a vida toda e provavelmente sempre ficará".
A paixão de Lennon pela mudança social também ecoou em Sinead O'Connor: "John Lennon, obviamente, eu admiro porque ele usou sua plataforma tanto quanto podia para as coisas em que acreditava".
O número de artistas que citam a música "Imagine" como a maior canção de protesto de todos os tempos, embora possa nem ser o seu melhor, é impressionante. E como acontece com grande parte do seu trabalho, seu nome transcende gêneros e gerações, de Carlos Santana a Dan Reynolds da Imagine Dragons.

*Steve Baltin

EXALTEMOS TODOS O ÓCIO PRODUTIVO!

Eu li em um dos livros do Ruy Castro que, ainda mais legal do que unir o útil ao agradável, é unir o agradável ao agradável. Uma idéia carioquíssima: a exaltação do desfrute.
Há tempos venho ruminando sobre isso. Conheço muitas pessoas que vão ao cinema, a boates e restaurantes e parecem eternamente insatisfeitas. Até que li uma matéria com a escritora Chantal Thomas, na revista República, e ela elucidou minhas indagações internas com a seguinte frase: "Na sociedade moderna há muito lazer e pouco prazer".
Lazer e prazer são palavras que rimam e se assemelham no significado, mas não se substituem. É muito mais fácil conquistar o lazer do que o prazer. Lazer é assistir a um show, cuidar de um jardim, ouvir um disco, namorar, bater papo. Lazer é tudo o que não é dever. É uma desopilação. Automaticamente, associamos isso com o prazer: se não estamos trabalhando, estamos nos divertindo. Simplista demais.
Em primeiro lugar, podemos ter muito prazer trabalhando, é só redefinir o que é prazer. O prazer não está em dedicar um tempo programado para o ócio. O prazer é residente. Está dentro de nós, na maneira como a gente se relaciona com o mundo.
Chantal Thomas aborda a idéia de que o turismo, hoje, tem sido mais uma imposição cultural do que um prazer. As pessoas aglomeram-se em filas de museus e fazem reservas com meses de antecedência para ir comer no lugar da moda, pouco desfrutando disso tudo. Como ela diz, temos solicitações culturais em demasia. É quase uma obrigação você consumir o que está em evidência. E se é uma obrigação, ainda que ligeiramente inconsciente, não é um prazer.
Complemento dizendo que as pessoas estão fazendo turismo inclusive pelos sentimentos, passando rápido demais pelas experiências amorosas, entre elas o casamento. Queremos provar um pouquinho de tudo, queremos ser felizes mediante uma novidade. O ritmo é determinado pelas tendências de comportamento, que exigem uma apreensão veloz do Universo.
Calma. O prazer é mais baiano. O prazer não está em ler uma revista, mas na sensação de estar aprendendo algo. Não está em ver o filme que ganhou o Oscar, mas na emoção que ele pode lhe trazer. Não está em namorar uma garota ou rapaz, mas no encontro das almas. Está em tudo o que fazemos sem estar atendendo a pedidos. Está no silêncio, no espírito, está menos na mão única e mais na contramão.
O prazer está em sentir. Uma obviedade que merece ser resgatada antes que a gente comece a unir o útil com o útil, deixando o agradável pra lá.

*José Arreguy Pimentel

REMINISCÊNCIA

Nasci numa pequena cidade de Minas. Até aí nada demais. Muita gente nasce em cidades pequenas, distantes e quietas. Seria feliz, de qualquer maneira, se quem lê neste instante pudesse saber a alegria que existe em se nascer num lugar assim, em que as ruas pequenas e estreitas, as altas palmeiras, a água macia da chuva que cai sempre, as muitas estrelas e a lua, as pedrinhas das calçadas, a meninada, a carteira da sala de aula, a mestra e mais uma quantidade destas lembranças simples sejam, mais tarde, influências reais na vida da gente.
Na vida de quem, afinal, preferiu enfrentar a cidade grande: as águas desse mar, a luz dessas lâmpadas frias, a sala fechada, triste e sem perspectivas em que se ganha a vida, a cadeira quente e insegura das tardes de ir e vir — pura fadiga — das empresas, a luta, a dura luta de ser alguém, um peixe grande em mar estranhamente grande. A verdade é que, um dia, a pensar e refletir na grama macia da pracinha da matriz, a criança decidiu sair.
E a estrada se abriu a sua frente. Vir era uma idéia. Fixa. Caminhar era fácil.
A chegada: a rua imensa, as buzinas, as luzes, sinal verde, aquela cidade grande, grande ali, na sua frente. Cada face, cada ser que passava — pra lá e pra cá — inquietamente, tanta gente, suada, apressada, sem alegria, sem alma, a alma cerrada, enrustida, cada triste surpresa era a chegada.
Cheguei. Um táxi. A mala. As esquinas. Está bem, mas, que fazer? Sentei e pensei. Pela janela da casa alta vai a vida. Seria a vida? E disse a primeira frase na cidade grande, as primeiras palavras diante da grande luta e as palavras eram: Meu Deus, que saudade! E nem um dia me separava da pracinha da matriz. Cada dia que, a seguir, vi passar, esqueci.
Diante da máquina, neste instante, há uma distância imensa entre aquele dia na missa cantada na minha igrejinha e este dia em que, diante de mim, diante de minha mulher e da minha casa feita de cidade grande, minhas filhas brincam de ser gente grande.
E elas. Que vai ser delas? Sem palmeiras, sem um pai de ar grave; sem entender a chuva a cair em jardins humildes, nas margaridas branquinhas; sem entender de lua e de estrelas — que céu aqui, pra se ver nem se vê —, sem brincar na lama das ruas, a lama das chuvas, casca de palmeira, descer as barracas, nadar sem mamãe saber, nas águas escuras, fim de quintal, quintal, quintal? sem quintal? pedrinha de calçada, marcar a canivete sua inicial na carteira da sala. Ainda bem que nasceram meninas.
Já é diferente. Será que é? Sei lá. Entre a chegada e este instante, lembrança nenhuma. Sei que cheguei.
E sei mais: que esta página está é uma grande besteira, dura de cintura, sem graça, uma m... Já se vê que quem nasceu para caratinguense nunca chega a Rubem Braga. E também tem mais: quem é capaz de escrever uma página literária decente — igual a essa — sem usar uma vez sequer a letra O?

*Ziraldo.

O ROMANCE NEO-REALISTA EM PORTUGAL

A denominação Neo-Realismo nos sugere a volta da moda realista, mas, em se tratando de Literatura, é claro que não pode haver um “retorno” d...